
Nascida na Itália em 1914, Achilliana Bo Bardi, mais conhecida como Lina, foi uma importante arquiteta ítalo-brasileira. Teve como estilo arquitetônico o modernismo. Trabalhou também como designer e cenógrafa.
Em tempos de guerra, desenvolveu trabalhos como editora e ilustradora, já que a situação de seu país de origem, não permitia que Lina projetasse. "Na minha geração aconteceu a Segunda Guerra Mundial. Não se construía nada, e eu escolhi arquitetura. Só se destruía".¹ Não aguentando viver sobre pressão, Lina veio para o Brasil. Chegando aqui, se naturalizou e ficou. "No meu país de escolha, me senti cidadã de todas as cidades. Desde o Cariri ao triângulo mineiro, as cidades do interior e as da fronteira. Me senti em um país inimaginável, onde tudo era possível"¹, revelou Lina.
Entre os vários projetos da arquiteta, destacam-se:
Casa de vidro
A casa que foi residência de Lina, é sua primeira obra construída (1951). Está localizada no bairro Morumbi, zona sul de São Paulo. Foi a primeira a ser construída no bairro, onde antes era dominado pela Mata Atlântida.
Mesmo com o terreno muito inclinado, a arquiteta decidiu conservá-lo. A estrutura vertical da casa é composta por tubos de aço, pensados em uma modulação de quatro módulos de largura por cinco de profundidade. Formam o pilotis da residência, e avançam pela laje do piso superior até a laje da cobertura, ambas de concreto armado, fazendo com que a "caixa de vidro" pareça flutuar sobre a mata.
No salão de estar e jantar, predomina as aberturas de vidro, trazendo a paisagem para dentro da casa. A residência possui pátios que ajudam a amenizar o clima, como na área dos dormitórios, que ajuda na ventilação e iluminação para os mesmos.
MASP
O museu foi construído no terreno do antigo Belvedere Trianon, na Avenida Paulista, em 1968. O edifício possui um grande volume que está suspenso a oito metros do solo, deixando o térreo livre, estruturando-se em dois grandes pórticos. A obra foi considerada a de maior vão livre do mundo em sua época, cerca de 74 metros entre os pilares. O edifício tem aproximadamente 10 mil metros quadrados.
Nele foram inauguradas escolas de pintura, design industrial, escultura, fotografia, cinema, teatro, moda e outros. Em sua base está um imenso hall cívico, um teatro-auditório e um pequeno auditório com sala de projeção. No volume suspenso, fica a pinacoteca, com seus escritórios e as salas de exposições.
O grande edifício possui uma arquitetura simples."O Museu de Artes de São Paulo não é bonito. Não procurei a beleza, procurei a liberdade. Os intelectuais não gostaram. O povo gostou"¹ disse Lina em uma entrevista.
SESC Pompéia
O SESC é um espaço de múltiplo uso, que concentra várias atividades culturais. Foi concebido em 1977, local da antiga Fábrica de Tambores. Analisando o espaço, Lina percebeu que o local servia de lazer para muitas pessoas de várias idades, e decidiu deixá-lo com essa atmosfera de alegria. Os galpões foram mantidos, mas para dar conta do novo programa, foram construídas duas novas torres no final do lote. "Ninguém transformou nada. Encontramos uma fábrica com uma estrutura belíssima. Arquitetonicamente importante, original. Nós colocamos apenas algumas coisinhas: um pouco de água, uma lareira. Quanto menos cacareco melhor"¹ disse a arquiteta.
A obra tem um aspecto bruto. Materiais aparentes, diversidade de escalas e formas, mas ao mesmo tempo, detalhes que deixam a obra mais delicada aos olhos mais sensíveis. "Esses buracos representam um pouco a vida também, nessas paredes de concreto imensas, que são absolutamente regulares, quadradas (...) mas basicamente eu acho que os buracos são uma imagem que Lina tinha, das aberturas das cavernas (...) você enquadra uma paisagem de uma maneira irregular"¹ disse o arquiteto André Vainer, em uma entrevista.
Teatro Oficina
Lina Bo Bardi foi convidada para refazer o teatro, invadido em 1974. Criaram uma nova concepção cênica, interpretando os conceitos de rua. Como produto final, um espaço de passagem com platéia de dois lados, em duas fileiras de cadeiras em andares. Foram deixados vestígios de tijolos de barro maciço em desenhos de arco romano. Utilizaram peças de concreto para contraventamento das paredes existentes, e estrutura metálica, para suporte da cobertura retrátil de aço e das plateias desmontáveis.
O diretor José Celso Martinez Corrêa, mais conhecido com Zé Celso, trabalhou com a arquiteta em várias situações: "Você ter a Lina em uma obra, ou você ter a Lina em uma peça, é você ter uma equipe toda mobilizada. Aquela massa criando e trabalhando com ela. Ela dava muito mais atenção para esse pessoal do que para as estrelas, as vedetes e tal. E ouvia muito e se inspirava muito com isso"¹ revelou o diretor do Teatro Oficina.
Em seus últimos anos, Lina manteve intensa atividade em todas as áreas culturais, sempre sensível à arte popular brasileira. Nos deixou em 1992, realizando seu sonho de trabalhar até os últimos dias de vida.
1. MICHILIS, Aurélio. Lina Bo Bardi - Documentário. Acessado em http://www.youtube.com/watch?v=Ns9XX7V2qVA no dia 07 de janeiro de 2013.
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Colunista de Arquitetura
Ipatinga, 14 de janeiro de 2013
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