sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O mito do talento musical

Hoje contarei duas histórias distintas e contrastantes entre si. Pedro* e Filipe*, ambos de 6 anos de idade. Pedro é uma criança de uma família com renda média e vem de uma tradição familiar oriental, onde o conhecimento é transmitido de pai para filho, e seus posteriores. Pedro faz natação, futebol, informática e já começa suas aulas ao piano, onde passa grande parte do seu tempo ocioso. Pratica diariamente, tem dois professores particulares do instrumento e mantém uma vida relativamente equilibrada.




Filipe é a outra realidade dessa história. Não tem aulas extras, nem cursinhos, muito menos oportunidade e acesso à música, a não ser a que seu pai ou sua mãe cantarolam pela casa, ou a que aquele velho senhor executa no bar com seu violão. Sua vida é afetada por violência, drogas, miséria e desequilíbrio familiar.





São duas histórias, duas crianças, fatos que se repetem diariamente num país como o Brasil, onde as diferenças sociais são facilmente enxergadas. A questão do talento musical é um tema sempre muito polêmico para aqueles que apreciam a boa arte, porem, é preciso atentar para alguns fatos, como o que acabamos de mostrar. O grande mito que gira em torno do talento musical é se o talento é genético ou pode ser adquirido. E questões como a cultura familiar podem ser decisivos para responder essa questão. Pergunto: analisando a cultura familiar de ambos os casos, em qual deles é mais provável que se realize uma carreira musical promissora































Não pretendo abordar com profundidade este tema ainda, mas gostaria de apenas trazer estas reflexões. Se música for dada como arte para gênios, qual o sentido de se educar por ela? Não existem gênios por genética, existem gênios por esforço e disciplina, que encontram o ambiente propício para desenvolver habilidades que são para eles mais táteis e dinâmicas. Considerar a música nesta visão é utiliza-la como ferramenta de exclusão social e cultural, e o que se pretende ao educar, seja por qualquer meio, é sempre dar acesso a quem não tem e desenvolver capacidades e habilidades de cada um.



* Nomes fictícios.
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Colunista de Música
Vitória, 18 de outubro de 2012.

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