Sempre quando vamos falar sobre o gosto, lembramos
diretamente dessa afirmativa. O gosto é, juntamente com a religião e futebol,
designado como um assunto que não deve ser discutido, porque leva as pessoas a
se desentenderem por causa deles. Mas
para aqueles que sabem como se expor diante de uma discussão, pergunto
novamente: O gosto pode ser discutido? E mais ainda, o gosto musical pode ser
discutido?
Para que possamos começar a discussão sobre o tema, precisamos compreender que cada pessoa traz consigo uma experiência de vida, que é articulada com o que conhecemos como senso comum, ou seja, qualquer objeto ou conhecimento adquirido em sociedade é uma representação social daquele objeto. Portanto, o seu estilo de se vestir, o modo como você se comporta e a música que você ouve, ela é resultado de muitas experiências de várias outras pessoas que formaram esse gosto.
O grande erro em se discutir sobre gosto musical é quando tentamos impor nosso gosto sobre o outro. Nós sempre perdemos a capacidade de compreender que não existe uma música melhor nem pior que a outra, mas sim diferentes.
Sabemos que a música é uma das formas do ser humano se expressar, como pessoa, como indivíduo de uma sociedade, como representante de uma cultura diferente, de um modo de pensar. Portanto, é imprudente querermos validar uma determinada música usando o mesmo critério que usamos em nossa música, sendo que, uma música feita no subúrbio do Rio de Janeiro possui um valor diferente para quem mora ali mesmo, do que para alguém que mora no sul da França, por exemplo. Nossa música, sua música, são representações sociais de quem somos em sociedade.
E é por essas representações sociais de música que nos agrupamos com amigos de acordo com o gosto musical. E é nesse ponto que reside o sucesso para uma boa discussão sobre música: se entendermos que nosso gosto é meramente uma forma de representar quem somos, seremos capazes de aceitar o outro com seu estilo de música como válido também. E vale lembrar que para todas as relações em sociedade, o respeito quanto à forma de ser do outro.
No Brasil, além de termos todas as formas de expressão musical de cada região, que são muitas, tem aqueles que curtem as influências estrangeiras, como o jazz, a música pop norte-americana, ou seja, a cada encontro com essas manifestações, o quadro da música brasileira muda, o gosto se constrói e se modifica.
Portanto, se você ainda acredita que o gosto não se discute, você vai precisar se desgarrar da sua forma de ver a sua música como gosto universal, e enxergá-la além dos objetos sociais e objetivos que ela exerce pra você. É feliz neste quesito aquele que consegue ouvir de tudo um pouco e em nada se prender, isso prova que ele é capaz de se reciclar, de ampliar seu gosto e conhecimento, afinal, como diz o famoso educador brasileiro, Paulo Freire, o ser humano é sempre um ser inacabado.
É isso aí, e para aqueles que desejam saber mais sobre o assunto, indico um texto super interessante sobre a função da música como representação social e como construção de uma identidade aqui.
Até mais galera!
______________________________
Max Michel
Colunista de Música
Ipatinga, 23 de agosto de 2012.
______________________________
Max Michel
Colunista de Música
Ipatinga, 23 de agosto de 2012.
Adorei Max, parabéns.
ResponderExcluirO que me deixa nervoso é discutir com quem não tem um gosto em si, que é algo individual, mas somente seguem tendências impostas pelos meios de comunicação. Aí não tem como se discutir o gosto mesmo. Hahahah... =D
ResponderExcluirMuito bom o texto! \0